Páginas

sábado, 9 de agosto de 2014

Moradores de rua rejeitam ajuda!



Em frente a um dos cartões postais da Capital, a cena passava despercebida pela maioria apressada. Tornou-se tão comum que virou paisagem. Há anos, Porto Alegre tropeça na população de rua sem uma política eficiente para reduzi-la. O último levantamento da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), de 2011, mostra aumento de 12% em relação ao de 2007, para um total de 1.347. A Fasc pretende dar início a novo censo neste ano.

A primeira contagem, feita pela Fasc em parceria com pesquisadores da UFRGS, coincide com o início de processo até hoje em discussão na Justiça. A Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público pediu ampliação da rede de acolhimento, que tem pouco mais de 600 vagas, metade em rede conveniada com o município. Em dezembro de 2013, a juíza Rosana Broglio Garbin deu sentença obrigando o município a criar, em até três anos, 300 vagas com prioridade a idosos e pacientes em recuperação de problemas de saúde ou dependência de álcool e drogas. Em junho passado, o município recorreu ao Tribunal de Justiça.

Para o sociólogo Ivaldo Gehlen, um dos pesquisadores da UFRGS que participou da elaboração dos dois censos da população de rua em Porto Alegre, abrir mais vagas não resolve a questão.

– O abrigo é estruturado pela nossa maneira de pensar e de querer que eles vivam. Essas pessoas desenvolveram uma espécie de identidade de rua. Modificar esse perfil é um processo lento e progressivo, e as políticas não preveem esse ritmo, a sociedade quer respostas rápidas – diz Gehlen.

Nas abordagens da Fasc, 64% das pessoas em situação de rua se recusam a ir para um albergue. No inverno, a aceitação chega perto de 40%, mas a maioria ainda prefere a rua a um abrigo para não se separar do pouco que tem: um colchão, um carrinho de supermercado, um fogareiro ou um vira-lata.

O guardador de carros Fábio Dutra, por exemplo, montou um pequeno lar sob o viaduto da Avenida Silva Só com mobília recolhida do lixo e alguns objetos recebidos como doação. Aos 27 anos, desde os nove morando na rua, Dutra adotou a cadela Peluda para lhe fazer companhia. Mesmo a oferta de duas refeições, banho, roupa limpa e uma cama com três cobertores para passar a noite não entusiasma Dutra. Teme que levem seus apetrechos.

– Infelizmente, nem sempre temos como transportar todos os pertences no veículo da Fasc e nem teríamos espaço para colocar tudo no guarda-volumes – explica o coordenador do Albergue Municipal, Franque Hendler.

Os cães, acrescenta, ficam do lado de fora, presos à grade ou esperando o dono voltar. Não há previsão de investimentos para adequar a estrutura.

Para solicitar abordagens à Fasc, use os fones 3221-8578, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30min às 18h.3346-3238, à noite e aos finais de semana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário